segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Boa Noite, Bom dia!

Giulia Gomes

“Todos os dias quando acordo... não tenho mais o tempo que passou...”

Todos os dias têm momentos ruins e momentos bons. Os dias que têm momentos de pequenas felicidades e grandes tristezas são chamados dias difíceis. Os de felicidade extasiante com momentos irrisórios de tristeza são os dias especiais. Hoje... foi um dia esquisito. Quando eu acordei percebi que a notícia que acompanhou minha noite não era sonho. A violência do Rio de Janeiro tirou a vida de mais um colega de profissão. E, quis a ironia do destino, justo um colega cuja alegria de viver eu pude presenciar. O pior foi constatar esse fato assistindo repetidas vezes seus últimos momentos em todos os jornais. Soube pela manhã que o dia seria... difícil. A frágil humanidade apagada como num sopro. Mas isso tem que servir para alguma coisa! Serve no mínimo para nos fazer aproveitar cada minuto. Hoje, cada palavra, cada gesto, cada abraço foi consciente dessa fragilidade. É que às vezes a gente esquece...

Para ver se consigo não esquecer, tenho tentado descobrir que diferença faz na minha vida ajudar os outros. Hoje eu tive a oportunidade de conhecer o projeto Boa Noite, Bom dia do Hospital Universitário Antônio Pedro em Niterói. Jovens estudantes de medicina dedicam um dia da semana a visitar pacientes internados. No grupo de hoje eram oito pessoas, dois violões, chapéus engraçados para todos e cordas vocais afinadas com boas intenções. De fato não é preciso nada além disso. As grandes tristezas continuaram todas ali. As minhas, as deles, as de quem estava sorrindo e as de quem se emocionou também. Frágil! Bem frágil! Como uma música! E é assim que a verdade aparece e as pequenas felicidades, mesmo saindo do tom, acham uma brecha e se infiltram pela janela do quarto vizinho. Em poucos momentos as tristezas solitárias viram uma bela melodia. E dá para ver o ar ficar mais calmo. Voltei para casa cantarolando, constatando a magia de se aproveitar cada momento.

Hoje foi um dia esquisito...Felicidade extasiante e grandes tristezas... no fundo, no fundo... todo dia pode ser assim... Especial!

“... mas temos tanto tempo! Temos todo o tempo do mundo!!”

Que venha o dia de amanhã!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Memórias


Na terça recebi uma notícia que muito me entristeceu. Uma casa de 103 anos foi demolida em São Gonçalo. Poderia não ser nada de mais não fosse um fato relevante: a casa de paredes rosadas, destruída para dar lugar a uma loja de ferragens foi o berço da Umbanda, religião 100% brasileira. Aqui cai a questão da fé. Independente do credo, o prédio tem um valor histórico e cultural. O prédio era um bem nacional que deveria ter sido preservado pela população e pela prefeitura. Quando foi anunciada a demolição, não havia mais tempo hábil para tombamento. A única saída seria um decreto da prefeita Aparecida Panisset, interrompendo a obra para, então, poder-se iniciar o processo de tombamento do imóvel. A casa veio abaixo e a Excelentíssima prefeita disse que nada poderia fazer. Da parte da imprensa, o único veículo no qual li algo sobre o caso foi no jornal “Extra”, que anunciou a possibilidade da demolição e a destruição do imóvel. Uma cena triste de se ver.

                                                      Bruno Gonzales/ EXTRA

 E lá se foi por terra mais um pedaço da história do Brasil. História essa que em São Gonçalo não é conservada e difundida. De acordo com o Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), a Fazenda do Engenho Novo é o único bem construído pelo homem tombado na cidade. São Gonçalo não é uma cidade turística e com esse tratamento dedicado ao patrimônio público, talvez nunca venha a ser. É uma pena para os moradores da cidade que perdem em renda e visibilidade. E uma pena a toda uma legião de brasileiros que tem sua história transformada em escombros pela incapacidade de se por em prática uma palavra simples: PRESERVAÇÃO.
Saiba mais sobre a história da Umbanda aqui.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

FRÁGIL COMO UM BALÃO DE AR

Giulia Gomes

A vida é feita de momentos! E o grande segredo é guardar os bons lá no fundo do coração e mantê-los sempre presentes nas nossas memórias. Todos os dias eu escrevo na minha agenda os momentos mais felizes do meu dia. Quando as coisas não estão muito bem eu corro para aquelas palavras que me levam de volta. Elas me lembram que temos que aproveitar momentos felizes com todas as nossas forças! Sim, força! Porque é preciso força para ser feliz! Força, não dessas que a gente faz para levantar peso... mas, força o bastante para fazer as escolhas certas e selecionar muito bem os pensamentos que ficam na cabeça.


O meu sábado foi de momentos felizes!

Sentei no fundão com três pequenos com umas carinhas de atentados! Vitor, Roberto e Jorge, todos com idades entre 7 e 8 anos.

- Quem pintar o caracol mais bonito vence! – eles finalmente se sentaram e pegaram a folha para colorir.

-Vence o que, tia?

-IH! Surpresa! – eu disse sem fazer ideia do que poderia animá-los.

Comecei imediatamente a matutar um prêmio, um presente, um objeto, um lanche, um doce... até que a ideia partiu de um deles, o que tinha cara de mais espoleto!

-Quem fizer o desenho mais bonito ganha um beijo da tia!

E os três começaram a colorir o caracol sorridente com muita vontade, caprichando!

-E se a tia vencer, o que vocês vão me dar?

-Ganha um beijo nosso! – disse tímido.

Foi arte para todos os lados! Falamos sobre a primavera, colamos pétalas na máscara de papelão em forma de flor, usamos todas as cores da caixa de lápis. No final: 3 beijos na bochecha da tia! – Momento feliz!

Fui brincar com o João! Sempre um capítulo à parte! O João tem seis anos, mas é tão pequenininho! Bracinhos magrinhos, parece tão frágil... Só parece! Eu nunca vi uma pessoinha tão disposta a se divertir!

Ele pegou a máscara de flor que ele construiu e colocou nas minhas mãos.

-Tia, segura pra mim?

Se afastou e trouxe de volta um balão de ar, uma bexiga.

-Caramba, João! Duvido você fazer embaixadinhas!

O João chutou, pegou de novo, jogou com a cabeça, foi com a mão, jogou para o amiguinho, bateu para longe e foi correndo buscar.

Os adultos ficam preocupados...

O João não pode correr muito, não pode comer doce, não pode se agitar demais... etc... etc...

Mas, o João não quer saber! Corre pra lá, pra cá, brinca de pega, joga futebol. Tudo o que passa na mão dele, ele pergunta: -“É meu? É meu?? É meu?!?!

Quando vi, lá estava o João fazendo um esforço danado para segurar todos os balões de ar que “eram dele”! Como se ele quisesse agarrar aquele momento para sempre!

-Tia?! – disse ele entulhado de balões, quase desequilibrando. – Tia?! Coloca a máscara de flor na minha cabeça?! Hum... e coloca também aquele balão ali aqui em cima. – e apontou com a boca algum lugar entre seus braços.

Eu ri! Parecia piada! Um pimpolho que bate quase no meu joelho segurando com seus bracinhos mais de oito balões, e com a flor na cabeça!

Encostei gentilmente no ombro dele e disse: - João! Tá com você!

E saí correndo!

Ele jogou todos os balões para o alto e saiu correndo atrás de mim! Quando conseguia me alcançar segurava na ponta da minha camisa com toda a força e dizia – Te peguei, tia!!

Uma hora o João sumiu e voltou correndo com dois bombons na mão e um pirulito na boca. A mãe preocupada veio correndo atrás.

-Ele não pode comer doce!! Tem diabetes!!

João correu na minha direção e colocou os bombons na minha mão.

-Pra você, tia! – ele me puxou para perto dele e falou baixinho no meu ouvido: -Tia! Não conta pra ninguém! Vou te dar um presente! Um CD com os Power Rangers!

-É mesmo, João?!

- É!! Com as princesas, o Bem 10, os balões. Não conta pra ninguém! –e saiu correndo de novo.

A imaginação de uma criança é um dos bens mais preciosos que existem! Não importa as dificuldades, não importa o que é sério! No fundo, é tudo frágil como um balão de ar... que naquele momento era dele! Todos dele! E todos importantes! Preciosos! Como um segredo... que ele não conta pra ninguém! Mas que todo mundo entende... só de olhar pro sorriso do João.

http://www.sonharacordado.org.br/riodejaneiro/lettera.php?idsec=8