terça-feira, 30 de março de 2010

Calabresa Neles!

Niterói, 18 horas, décimo sexto andar.
Chego em casa exausta! Luzes apagadas, a porta da varanda escancarada. Uma claridade estranha vinda lá de fora invade a casa. Costumava ser a lua cheia...
A uma rua de distancia um outro prédio. Olhando para frente vejo mundos paralelos. Uma criança, sozinha, brinca no silêncio de seu quarto. Na janela seguinte, um casal discute. Alguns quadradinhos para baixo, um cachorro late para o dono. A vista da minha varanda costumava ser linda! Agora. Prédio.
Me jogo no sofá como quem precisa esquecer o dia. Desligar. Esqueço os mundos paralelos que se apresentam na minha frente. Desligo.
O som alto e irritante das buzinas dos carros lá embaixo atinge meus ouvidos. Já virou rotina. Me encolho, travesseiro na cabeça, não tem jeito. Péeeeeeeeeeeiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnn!!!!!! Bi biiiiiiiiiiiiiiiiiii! Béeeeeeeee! Na minha mente conseguia ver cada um daqueles motoristas cansados tascando a mão no meio do volante. Décimo sexto andar. Som agonizante! Contínuo! Desesperador! Com o tempo você esquece o que é o silêncio. E o sonido constante ecoa nas esquinas do cérebro. Engarrafado. É enlouquecedor tentar relaxar assim.
Se eu andar do meu prédio até a rua principal do bairro, são dois quarteirões. Sete prédios enormes estão sendo construídos ao mesmo tempo só nesse trajeto. Isso é desenvolvimento? Vou me embora pra Passárgada, onde canta o sabiá. Antes que as construtoras cheguem lá.

5 comentários:

Lívia Pinho disse...

sem querer ser estraga prazeres, mas pelo andar da carruagem, logo, logo as construtoras chegarão ao paraíso. corre logo, antes que o rei seja deposto e as mulheres estejam espalhadas pelas milhares de novas camas...

George Luis disse...

Muito bom o final! Fechou (poeticamente) com chave de ouro!

Unknown disse...

Giulia, maravilha os textos. Escrevendo como nunca e "doida" como sempre. Muito bom.

May Guimarães disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
May Guimarães disse...

Ai vamos...a gente cria uma comunidade se alimenta de "alimento vivo"(grãos germinados)e é feliz até o desenvolvimento chegar!!!Isso a curto prazo!!!Mas a gente tenta!!! Cara é incrível minha irmã falou sobre isso ontem, ela me perguntou como vc consegue viver aqui com esse barulho todo? ai eu "loca" q barulho??? Esses carros, buzinas, obras, ai foi que eu parei pra pensar eh verdade...jah estou tao acostumada q nem reparo mais...
Ih tá muito bom...texto claro, preciso...e poético!!!