sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Calabresa Neles!

O nosso todo queridinho Lula disse que a imprensa não devia fiscalizar, só informar!
Isso me lembra uma cena... (será que faz tanto tempo assim?) A defesa pouco discreta do intocável Sarney (aquele das 11 denúncias arquivada sem investigação por um conselho de ética duvidosa). Ele culpou o “clima de denúncias” pela instabilidade e falta de moral do Senado. Claro que os salários absurdos a impunidade e os benefícios abusivos não têm nada a ver com isso.
A imprensa, segundo ele, deveria deixar a fiscalização para órgãos como o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria Geral da República. Fato é que órgão regulador é o que não falta! Rasguemos nossos diplomas!! Eles não valem mais mesmo...
Nossa função é informar! Graças ao Big Brother que vivemos as notícias e denúncias vêm com imagens! O objetivo é chocar? Nada melhor do que uma imagem que vale mais que mil palavras! Nada como assistir o vídeo do assalto do coordenador do AfroReggae! Dessa vez foi ele, quantos outros não foram filmados!? O major porta-voz da PM disse que os bandidos(desculpa), policiais (que roubaram os pertences da vítima da mão dos ladrões e os deixaram livres) cometeram um “desvio de conduta”. Prisão preventiva é um termo curioso. Quando ouço isso entendo “prisão temporária até a imprensa largar do pé”. Como tudo hoje em dia é filmado, aguardamos ansiosos a divulgação do vídeo do helicóptero abatido por traficantes. Para que filmes de ação? A realidade é muito mais “barata” e vende muito bem!
Acabo de assistir a um telejornal sobre assaltos a carros em engarrafamentos. Fato é que prendi a respiração em várias cenas. O moleque se aproxima do carro, o motorista não tem para onde ir, depois de observar o que tem dentro estilhaça o vidro com uma pedra, pega e sai andando tranqüilo para ver o que conseguiu. Estou realmente considerando a possibilidade de nunca mais dirigir... Se paro para pensar me pergunto como ainda temos coragem de por os pés nas ruas do Rio. O momento “Salve-se quem puder” já passou! Agora o clima que vivemos é o de “Quem será o próximo?” ou “Quando será a minha vez?”.
Desde quando passamos a viver num filme de ação, suspense e terror?
Helicópteros abatidos com armas exclusivas das Forças Armadas.
Bandidos abatidos para mostrar serviço e dar o exemplo.
População abatida se esconde onde pode e enlouquece atrás da fé enquanto aguarda o cessar dos tiros para contar seus mortos.
Matou um inocente? Diga que é ladrão? Não engoliram? Pareça arrependido e peça desculpas com a presença de repórteres.
As notícias em destaque vão ficando pequenas. Outras notícias vão substituindo.
Mas, os jornalistas?
Nosso papel é informar!
Qual será o papel do Presidente?




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Eu estou morrendo aos poucos. Meus olhos não enxergam ao longe. Meus ouvidos não decifram os detalhes. Meu olfato já não me traz prazer. Meu pulmão se acostumou a sugar o mínimo. Resistência de quem já sabe o que está absorvendo. Meu corpo não se mexe mais. Deitada numa cama só meus olhos se movem. Eles vêem uma luz, não muito distante. Em volta de mim só escuridão. As pessoas a minha volta falam! Falam tanto! Queria poder entender... Já nem sei mais se são pessoas. Já nem sei mais se quero entender. Me lembro que alguém colocou uma roseira na minha janela. Um dia eu vi um pontinho verde ficar rosado. Depois, pouco depois, já dava para perceber as pétalas se formando e o botão se abrindo lentamente, sempre que meus olhos se afastavam. Era uma beleza divina, impressionante! O que é que faz essa vida nascer ao meu lado e aos pouquinhos, no tempo certo, se desenvolver até atingir o ápice da beleza, a pureza da sensibilidade, o veludo das pétalas, a simetria perfeita de algo que antes não estava ali? Minha atenção se desviou por um momento. A euforia que senti por tão intenso tempo foi diminuindo e eu não consegui mais me mexer. As pétalas foram caindo e o rosado ficando branco.
Eu estou morrendo aos poucos. O único movimento que meu corpo faz é cumprir uma rotina mecânica, diária, igual. Um papel que me disseram para cumprir. Meu pulmão se acostumou com a fumaça dos motores e dos cigarros. Meus ouvidos não conseguem me deixar em paz. Meu olfato traz todo o mal que está no ar para dentro de mim.
Meus olhos enxergam uma luz...
Continuo rezando para aquilo ser só um filme na TV.
Se fosse realidade... me faria tão mal...
Olho para os lados e vejo outras pessoas morrendo aos poucos. Da minha janela consigo ver as pétalas de outras flores se desfazendo com o vento. Lá embaixo, vejo as minhas pétalas se misturando com outras num moinho de poeira seguindo rua abaixo, rodando sem parar.
Helicóptero abatido, policial ladrão, policial, ladrão, criança ferida, bala perdida, criança ladrão.
É um filme! É só um filme! E acalmo meu coração.
Hoje, da minha cama, já consigo mexer o dedo! Solucionei muitos pesares desligando aquela luz que ficava na minha frente. As pessoas a minha volta falam tanto!

Quase não reparei no novo botão da roseira.

4 comentários:

May Guimarães disse...

Taí uma ótima pergunta qual será o papel dele!??!?!?Já que ele faz tudo menos...o que lhe diz respeito...e quando faz ...só Jesus!!!Seu texto ta òtimo...e o de baixo complementando está perfeito....

Berenice disse...

Ainda bem que seu dedo começou a mexer.....é preciso se mexer.... precisamos arremassar "calabreza" neles......

Lívia disse...

adoro os teus textos - muito bem escritos -, mas devo admitir que fico sempre um pouco mais pessimista às sextas-feiras.
mas, dessa vez, até que não.

Giu disse...

uhahuahua mas dessa vez até q nao!
huahuauhahu