sábado, 1 de agosto de 2009

Desresbunda

Uma leve neblina descia do céu. Ela acendeu um cigarro; quando estava mais ou menos na metade, ele chegou.

- Precisamos conversar, Melissa.
- Ah, Leonardo! Eu gastei com você um de meus melhores personagens. As pessoas são tão previsíveis. É engraçado quando elas reagem exatamente do jeito que você planejou acontecer. Mas até que você me surpreendeu, durou mais do que eu esperava.
- Foi tudo um jogo pra você, então?
- É errado eu ter o que quero fazendo você pensar que estou dando a você o que você quer?
- Ei, espere... cigarro?
- 8 anos. Vício maldito...
- Mas eu nunca vi v...
- Não, contraria a imagem da menininha indefesa, deslumbrada e apaixonada! – Melissa gargalhava enquanto tragava o cigarro lentamente – Você é do tipo mais comum e é exatamente por isso que gosto tanto de brincar com vocês... mas até que você tem talento, você é esperto, mas observa pouco, essa é sua falha.
- Você me usou?
- Só você que pode usar os outros, não é?
- Eu não te usei, eu só não sabia no que isso ia dar.
- Você foi difícil de afastar... eu tive até que escrever uma música... foi quando você se convenceu de que eu estava apaixonada, aí você teve que tomar uma posição... sentiu que a situação fugiu do seu controle – Melissa apagou o final do cigarro e ria enquanto procurava o isqueiro pra acender outro – mas, sabe, eu gostaria de ter me arrependido de ter jogado contigo, eu queria que você fugisse do padrão... porque até que você é bom de cama.
- Chega disso, Melissa. Vim conversar com você porque queria acertar nossa situação.
- Situação? Mas que situação? Nunca tivemos nada, Leonardo. Pensei que depois daquela última conversa que tivemos estivesse tudo resolvido pra você.
- Mas eu pensei que não estivesse pra você, eu pensei que, de repente, podíamos... ah, caramba! Você me enganou! Vai embora, Melissa, vai embora!
- Leonardo, estamos em uma praça pública. Eu não tenho que ir embora.

Leonardo olhou fixamente para Melissa que se manteve impávida. Depois de alguns segundos que mais pareciam horas, ele foi embora confuso. Então ela jogou o tempo todo com ele, logo ele, tão esperto, fora manipulado por Melissa, caiu direitinho no jogo dela, pra ela ele foi mais uma diversão. Mas ele não se importava, apesar de estar com o ego ferido, o pior era não sair mais com Melissa, principalmente agora que ele a vira tão sexy e perturbadora.

Melissa viu Leonardo se afastar, apagou o cigarro e vomitou de tanto tossir, nunca havia fumado na vida. Ela sentou em um banco próximo por um momento para acalmar os pensamentos. No fundo, tudo o que ela queria era que Leonardo visse nela algo além de sexo, ela ainda guardava em si todas as fantasias do mundo. Mas, apesar disso, ela queria ‘sair por cima’, vingada. Levantou calmamente e saiu dali como se nada tivesse acontecido, sorria pras pessoas com o mesmo brilho no olhar de sempre, era como se aquela dor já não pudesse mais a consumir, mesmo tendo passado tão pouco tempo. Ela aprendeu muito bem a guardar os sonhos e fantasias e a ser previamente cética. Há muito ela se tornou fria.




Texto tirado do fundo do baú pra introduzir o que vou falar na próxima semana, meios e fins. Para vocês, os fins justificam os meios? Se o objetivo é nobre, vale correr atrás a qualquer preço?

4 comentários:

Lívia Pinho disse...

a qualquer preço, não.

Unknown disse...

Nossa Gaio, que texto MARA! de quem eh? seu? rsrsrsrs Besos

Rê Coelho. disse...

nunca te amei tanto!

semana que veeeem... chega logo!!!!!!!!
x)

Gaio! disse...

é meu sim