segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Conversa Fiada

“Meu amigo, volte logo, venha ensinar meu povo que o amor é importante, vem dizer tudo de novo”


Nunca gostei de missas – aquele senta-levanta não faz nenhum sentido para mim –; não fiz primeira comunhão; não pretendo casar na igreja. Mas respeito muito a religião alheia. Aliás, desde pequena vou à Aparecida do Norte quase todo ano acompanhando minha avó. Sob esse critério, sou mais católica do que muitos católicos por aí.
Sábado foi a missa de sétimo dia do meu avô. Mesmo não gostando, lá estava eu, claro. Cheguei em cima da hora, mas garanto que foi sem querer, e fui sentar-me ao lado de uma tia e do meu tio-avô. Assistíamos à missa e eu acompanhava, com muito respeito, todo o ritual – apenas não repetia as frases feitas (sem querer ser preconceituosa, mas não sei o nome que se dá a elas) que todo católico praticante sabe de cor e salteado. Depois de algumas músicas e da leitura de salmos, antes do momento da comunhão, o padre iniciou uma pregação sobre perseverança no bem. Foi aí que ele me perdeu.
Achei muito interessante o tema escolhido e concordo que falta a algumas pessoas agir com mais bondade. Mas o padre, coitado, foi muito infeliz em sua pregação. “Muitas pessoas desistem de esperar por Deus e se desvirtuam para o espiritismo, para a bruxaria...”
Pera lá! Mas então o espiritismo não é uma religião cristã?? Depois de quase dez anos de mocidade espírita descobri que venho sendo enganada! Toda aquela lorota de estudar o evangelho de Cristo segundo a ótica espírita e aquela conversa de “apenas fazer aos outros o que gostaríamos que fosse feito a nós” ou de que “fora da caridade não há salvação” foi uma completa perda de tempo. Que desilusão!
Mas, pensando bem, estudei em colégios católicos a vida inteira, já cansei de ir à catedral de Aparecida e às bênçãos de Santo Antônio (não, não estou à procura do meu príncipe encantado) e nunca escutei tamanho desrespeito de nenhum outro padre. Talvez, então, esta seja uma opinião pessoal do que celebrou a fatídica missa de sábado.
Minha vontade era de me retirar da igreja na hora, durante a pregação mesmo. Apenas não o fiz em consideração ao meu avô e à minha família. Mas confesso que agi em desacordo com aquilo que procuro seguir: ao contrário de continuar respeitando e acompanhando o ritual católico – assim como gostaria de receber tal respeito àquilo em que acredito –, passei o resto da missa sentada.
Durante as horas que se seguiram, pensei muito acerca das palavras que ouvi e gostaria de colocar para vocês a mesma pergunta que venho me fazendo: o que torna uma religião superior a outra?
Até onde sei, todas as religiões cristãs almejam a prática do bem. É aquela coisa de “fazer o bem sem olhar a quem”. Procurar seguir os princípios daquilo em que se acredita. Se você acredita que para conquistar o céu deve pagar o dízimo todo mês e simplesmente não fazer mal a ninguém, então que assim seja. Se para conquistar a redenção de seus pecados você deve ir ao confessionário, pagar suas penitências e tomar a hóstia todo domingo, então que seja feita a vossa vontade. Se crê que a meditação e o jejum são formas de alcançar a plenitude, que você assim o faça.
Para mim, qualquer religião, independente do deus em que se acredita; independente de ter danças, músicas e tambores; independente de exigir completa abstinência de tudo aquilo que é mundano; independente de tudo, se te levar a fazer o bem, a apenas amar o próximo e procurar seguir suas crenças no dia-a-dia, tá valendo.
No fundo, no fundo, o que anda faltando nesse mundo louco em que vivemos, não é fé. Fé o povo tem de sobra, seja em Deus, em Buda ou no Lula. O que falta é bondade. Se todos nos colocássemos no lugar do próximo antes de tomarmos qualquer atitude não haveria tantas guerras – pois saberíamos da dor das vítimas de nossas bombas –, não haveria tanta corrupção – pois pensaríamos no sofrimento das pessoas que padecem em filas de hospitais públicos –, não haveria tanta maldade. Apenas amor.
Portanto, meus amigos, em verdade vos digo que, de agora em diante, minha religião é a bondade.



--> Música da semana: Todos estão surdos - Fernanda Abreu (sim, sim, a música é do Roberto Carlos, eu sei)

7 comentários:

Giulia Gomes disse...

Faço das suas palavras as minhas, pessoa bondosa =)
"pois saberíamos da dor das vítimas de nossas bombas"

Fui numa missa de um ano há pouco tempo, e compartilho da sua revolta com algumas coisas faladas, aparentemente sem nem questionamento.
Confesso que a vontade de me retirar foi uma constante ao longo do que me pareceu uma longa cerimônia superficial e cheia de gestos marcados e automatizados.

melina disse...

ahh eu gosto de missass, gosto muito.
mas o texto ta boom. Na hora q o padre falou isso eu pensei: "livia vai ficar mt irritada com isso." viu como te conhecoo huuhahua.

Camy C. disse...

Toda religião tem como princípio básico acreditar que é superior a outra. Acredita que é dona da "verdade" e que todas as outras religiões estão enganadas quanto a isso. Também estudei em colégio católico e nunca escutei alguma freira ou padre falando mal contra outra religião. Mas vai saber o que passa na cabeça deles né ? ;)

O empírico disse...

Que seja a religião de todos.

=)

Gaio! disse...

Não é que a religião se julgue superior, é que religião, qualquer que seja ela, assim como o colégio, tem papel disciplinador do ser humano, tem por obrigação torná-lo menos animal, por isto esta idéia aparente de 'superioridade'...

Gaio! disse...

E, infelizmente, acho que quem está por trás, 'governando' as religiões, não acredita em nada, só na manipulação...

May Guimarães disse...

AMÉM...AHUHAUHUHA