segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Conversa Fiada

“Mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo”


A maturidade, para mim, chegou agora.

Não veio à galope, mas sim numa marcha lenta, meio cansada, assim quase parando. Mas veio. Chegou e está aqui comigo, abancada à escrivaninha, me levando a enxergar certas coisas e a fechar os olhos para outras. A rever alguns conceitos, repensar a vida.

Ela me conta que no caminho para cá encontrou alguns problemas que seguiam viagem para um mesmo destino e resolveu vir com eles. Por isso nossa longa conversa, em partes dolorosa, em outras triste apenas, mas sempre séria e altamente necessária.

A mudança mais marcante que já posso perceber com sua chegada é o fim da idolatria ao homem que me trouxe ao mundo. Meu pai sempre foi, para mim, a pessoa mais inteligente, mais vivida, mais forte e centrada que já havia conhecido “na vida” – como gostava de acrescentar para meus amigos sempre que falava dele com orgulho.

Certamente ele agrega todas essas qualidades, mas algo aconteceu que me fez mudar a forma de ver as coisas. Esse algo, um tal “transtorno maníaco-depressivo” ou seja lá qual for seu nome, porém, trouxe consigo o brilho de uma flor que desabrochou depois de vinte e cinco anos vivendo à sombra de um homem maior apenas em estatura. E esse brilho agora ofusca aquele que, um dia, foi dono de toda minha admiração.

Minha mãe e eu tivemos momentos difíceis, afinal de contas, quem nunca passou pela puberdade que atire a primeira pedra. É clássica e inevitável a fase da negação a qualquer verbo, substantivo, pronome, adjetivo ou advérbio que venha de nossas progenitoras. Foi durante essa fase que aprendi definitivamente que os antônimos, estes sim, são palavras de sentidos opostos e que os sinônimos servem para ser usados com qualquer pessoa que não seja a mamãe.

Apesar de sempre amá-la – mais do que palavras podem explicar – nunca havia sido capaz de perceber em seus atos a verdadeira magnitude da força, da coragem, da inteligência e da bondade da mulher que, com tamanho orgulho, chamo de mãe.

Da noite para o dia, ela teve que assumir os negócios do meu pai, que insistiam em seguir caminho ladeira abaixo, e o fez com enorme bravura. Sem negligenciar, nem por um segundo, casa, filhos, trabalho e cachorros (não necessariamente nessa ordem de importância).

São dois cachorros e quatro filhos – ou seriam seis filhos (?) – dos quais ela cuida e com os quais se preocupa com a mesma dedicação e com o mesmo carinho. Uma casa nova e linda que deveria dar-lhe a alegria de um sonho há muito sonhado e enfim realizado, não fossem os problemas que a maturidade, minha amiga, trouxe de carona – e aos quais insiste em referir-se como “ensinamentos”. E um trabalho que não a completa profissionalmente, mas que paga pelas roupas que visto, pelo bom colégio dos meus irmãos e pelo almoço em família no domingo passado.

Agora, enfim, percebo, com a ajuda da minha mais nova e inseparável amiga, o tesouro que é minha mãe. Sinto como se ela deixasse de ser o botãozinho escondido atrás do grande homem que sempre vi – e, apesar de tudo, sempre verei – em meu pai, para florescer na mais linda rosa, com o mais doce perfume. Mas que, apesar de tamanha doçura, possui os espinhos necessários, na medida certa para impedir que qualquer lagarta chegue às suas pétalas.

Mas o tempo urge e eu preciso aprender em uma noite o que não aprendi em vinte anos e minha amiga segue numa verborragia desumana e começa a falar-me agora de outra coisa que trouxe consigo: o futuro.

Incerto, nebuloso e cheio de atitude, exigindo decisões, ações, atividade! Investir; carreira; cursos; pós; CR; estágio... O futuro grita palavras soltas que me bofeteiam e se alojam na minha cabeça com um eco enlouquecedor.

Percebendo minha desorientação, por hora, ele se cala. Mas deixa as marcas do que já foi dito. A maturidade me diz para ter calma, ponderar tudo e me dar um pouco de tempo. Este último, seu pai, sabe melhor do que nenhum outro como acalmar corações e mentes aflitas. E é o próprio tempo quem lhe pede agora que me dixe um pouco só com meus pensamentos. Chegou a vez dele fazer sua (p)arte.



--> Música da semana: Quase sem querer - Zélia Duncan

2 comentários:

Melina disse...

vaaaaaascoooo..
ih, dia errado. uhauhauhauh xD
bombom o texto :D

Unknown disse...

"O futuro grita palavras soltas que me bofeteiam e se alojam na minha cabeça com um eco enlouquecedor."

me identifiquei, hehehe