segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Conversa Fiada

"Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar. Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar e não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar e nem deixou-a só num canto. Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar"


Quantos artistas entoam baladas para suas amadas, com grandes orquestras. Como os invejo; como os admiro. Eu, que te vejo e nem quase respiro, queria poder fazer como eles - exaltar-lhe a beleza nos mínimos detalhes. Nos olhos azuis, no sorriso assanhado. Na destreza dos atos, nos carinhos e afagos.
Mas não, não é de Cecília que vos falo. Não da minha Cecília, que olho, que guardo, que sigo e que - com imensa ternura - vejo dormir ao meu lado.
Essa, que põe meu coração a balançar, é aquela mulher que nem eu mesmo sei por que ficou comigo. Que me mata de rir e me fala de amor e que quando jaz o dia e toma forma a madrugada, geme de prazer e de pavor.
Com outros homens, ela só me diz que sempre se exibiu e até fingiu sentir prazer. Mas nunca soube antes de mim que o amor vai longe assim. Ela vem, molha meu colo e me pede o meu consolo. Não sei que feitiço tem aquela mulher que quando já é de madugada, ao meu ouvido sussurra: "acorda, acorda, acorda".
Mas porque falar de amor em hora assim tão avançada? Não vês que agora já não vale nada? E fui-me embora ao encontro de Cecília que, deitada, por entre os lençóis deixava ver as mais sinuosas curvas de seu corpo macio.
Corri os olhos pelo quarto e, através da porta entreaberta do armário, estava lá meu paletó enlaçando o seu vestido decotado que já cheira a guardado de tanto esperar.
Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz. Deixei a fatia mais doce da vida, o gingado de Cecília que sempre me fez feliz. Hoje a gente anda distante do calor desse gingado. Deus do céu, o que foi que eu fiz de errado?
Pensei em fugir e deixar Cecília apenas com as doces lembranças de quando fomos felizes. Mas como, se nos amamos feito dois pagãos? Seus seios ainda estão nas minhas mãos. Com que cara eu vou sair?
Sentei-me, então, na beirada da cama e, ao admirar Cecília, lembrei-me de todos os beijos loucos e dos gritos roucos que já não se ouvem mais e percebi que, enfim, nosso amor também pode ter seu valor - há de ter seu valor. Seremos felizes novamente.
E ainda sentado ali, acompanhando sua respiração, olhei-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar e, mesmo dormindo em seu pijama, para mim, ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar.
Nos imaginei dançando uma valsinha, cheios de ternura e graça e trocando novamente beijos loucos e aqueles gritos roucos como não se ouvia mais.


P.S.: Como não produzi nada novo para esta semana, posto um texto antigo, feito com fragmentos de canções do Chico Buarque.


--> Músicas da semana: Valsinha
_________________Eu te amo
_________________Cecília
_________________Aquela mulher
_________________A ostra e o vento - Chico Buarque
_________________Joana francesa
_________________Quem te viu quem te vê
_________________Amor barato
_________________Vida


Um comentário:

George Luis disse...

Eu simplesmente adoro o Chico! Fiz até um post só com músicas dele essa semana também!